Tanto os bispos como os párocos
fazem um constante apelo aos fiéis que não apenas compareçam as missas, mas,
delas participem ativamente. Para alguns párocos, contudo, esta participação é
demonstrada e satisfeita quando os fiéis cantam animadamente, acenam os braços,
batem palmas — atitudes não recomendadas pela Instrução Redenptionis Sacramentum — e também quando intervêm respondendo as
intervenções estabelecidas durante a oração eucarística, no entanto, esta
participação deveria ser muito intelectiva, cujos fiéis compreendessem bem tudo
aquilo que é a missa, o sacrifício eucarístico, isto é, a própria renovação e
atualização do sacrifício do Corpo e Sangue do Senhor Jesus, que ele instituiu
para perpetuar pelos séculos, até seu retorno, sacrifício da cruz confiando
assim a sua Igreja o memorial da sua Morte e Ressurreição. É um sinal de unidade,
vinculo da caridade, o banquete pascal, no qual se recebe Cristo, a alma
coberta de graça e é dado o penhor da vida eterna. Creio que mesmo daqueles
fiéis que são assíduos freqüentadores das missas dominicais ou mesmo diárias,
até mesmo religiosos leigos e religiosas, quase na sua maioria não compreendem
plenamente aquilo que venha ser o sacrifício da missa, entendida, por muitos,
mais como uma ceia o que a imolação sacrifical.
As causas dessa ignorância são
duas:
1º — a falta da devida instrução
religiosa dada pelos catequistas e também pelos próprios párocos.
2º — o modo como foi traduzida
para a liturgia da missa.
Não resta dúvida que a tradução
em uso no Brasil pode estar teologicamente correta para o clero e para aqueles
que tiveram a oportunidade de estudar quatro anos de teologia, mas não é
entendida de um modo geral para os fiéis. As palavras da consagração deveriam
ser por si só compreensíveis para todos fiéis, sem necessidade de explicações
complementares. Uma tradução mais compreensível iria evitar que os fiéis
viessem procurar os seus párocos para que eles explicassem com lucubrações
teológicas as palavras ditas no momento da consagração como Foi, certa vez, o
meu caso, onde o pároco foi buscar no hebraico a justificativa para a atual tradução
das palavras contidas na consagração. Não seria de admirar que o simples fiel
perguntasse:
— Por que a missa é também
chamada renovação do sacrifício da cruz? Em que momento da missa é realizado o
sacrifício, a imolação da vítima?
Atualmente é dada ênfase no
banquete eucarístico, como apenas uma ceia, seguida da comunhão, mas não no
altar etimologicamente entendido como sendo a ara do sacrifício, que na verdade
é o grandioso ápice da missa e a sua razão de ser.
A gramática da língua portuguesa
é uma das mais ricas do mundo, ricas em substantivos, adjetivos, advérbios,
verbos etc., servindo assim para tornar a idéia falada e escrita mais clara,
mais precisa, podendo assim não deixar dúvidas para duplas interpretações.
As palavras da liturgia
eucarística foram traduzidas de teólogos para teólogos, mas não para a
compreensão dos simples fiéis. Aqueles teólogos que traduziram do latim para o
português deveriam também ter pensado nos simples fiéis, traduzindo e
escrevendo da maneira mais compreensível possível também para leigos; sem
faltar naturalmente com a sua essência teológica.
No ápice da missa, na
consagração, o celebrante executa dois eventos distintos que se completam: 1º —
Ele transforma o pão e o vinho no corpo e no sangue de Jesus Cristo.
2º — O celebrante agora como
sacerdote; aquele a quem lhe foi outorgado, pela sucessão apostólica, o poder
de oferecer a Deus Pai, a Justiça Divina, a vítima imolada; o Corpo sem sangue
(a hóstia consagrada) e o Sangue sem corpo (o vinho consagrado) — ambos divinos
— o Cordeiro de Deus imolado para a remissão total dos pecados de toda a
humanidade passada, presente e futura, de um valor infinito. Jesus, na última
ceia, antes de deixar este mundo, como mestre, quis ensinar aos seus apóstolos
como perpetuar para posteridade a sua imolação incruenta representada pelo pão
e pelo vinho que iria se consumar cruenta tão somente na cruz no dia seguinte,
em razão disto ele teria dito — traduzindo-se do aramaico para o português no
futuro do indicativo: — “Tomai e comei isto é o meu corpo que será entregue por vós (isto é; na manhã
do dia seguinte)”. Prosseguindo: “Tomai, tomai todos e bebei; este é o cálice
da nove aliança, que será derramado
por vós e por muitos, para a remissão dos pecados, fazei isto em memória de
mim”. Da maneira como está formulado o ritual da missa a na língua portuguesa
dá entender que a remissão dos pecados ainda está para ser realizada num futuro
indeterminado, e que nunca será alcançado e que ainda não foi consumado, o que
não é verdade. Na última ceia Jesus, além de instituir a eucaristia, ele também
instituiu o sacramento da ordem, dando aos apóstolos o poder de transformar o
pão em seu corpo e o vinho no seu sangue e também eles passarem a ser
sacerdotes da nova Igreja nascente, substituindo assim os sacerdote do antigo
testamento que imolavam tão somente animais; novilhos, cordeiros e pombos. A
partir de então os apóstolos passaram a ser sacerdotes como ele, Jesus, isto é,
dotados de poder de oferecer um sacrifício único; completo e perfeito a Deus Pai,
que somente o Filho de Deus feito homem tinha esse poder.
““ Ora, como sacerdotes, “um
outro Cristo”, aqui no Brasil, usando da plenitude da língua português as
palavras da consagração deveriam assim ser proferidas: — "Tomai e comei;
isto é o meu corpo que está sendo (neste momento) oferecido por vós"
Prosseguindo: — “Tomai, tomai todos e bebei este é o meu sangue que está sendo (neste momento) derramado e
oferecido por vós e por muitos para a remissão dos pecados, fazei isto em
memória de mim”. Na edição do opúsculo “Liturgia da Missa” publicado para o
acompanhamento dos fiéis na missa, editado pela “Lúmen Christi” dos beneditinos
em 1969, com aprovação da CNBB, assim está redigido: — “Tomai e comei: isto é (presente do indicativo) o meu corpo entregue por vós”.
Prosseguindo; “Tomai, tomai todos e bebei: este é (presente do indicativo) derramado por vós e por todos, para a remissão dos pecados,
fazei isto em memória de mim”. Em italiano, língua em que o Papa celebra como
bispo de Roma para o público, a formula a da consagração é semelhante a que foi
a brasileira em 1969 formula da consagração. Assim ela é expressa: “... questo è il corpo offerto in sacrifício per
voi”, que se traduz do italiano: “...este é o corpo entregue por vós”. Não está
no futuro. Por que foi mudada a formula provada pela
CNBB em 1996? Qual a razão? Creio que a
comissão de teólogos encarregada de “melhorar” o texto da missa apenas tomou
como referência apenas uma das várias traduções existentes nas diversas edições
da Bíblia publicadas no Brasil. Mas não na “Bíblia Sagrada” edição de 1982 das
Vozes assim está redigido o texto de São Paulo: — Isto é o meu corpo, que se dá
por vós” e nem na “Bíblia de Jerusalém que assim está escrito: “Isto é o meu
corpo, que é para vós”. (1Cor 11, 23-25). Ambas as traduções estão
teologicamente corretas, mas, na verdade não são coloquiais, na verdade as
pessoas no Brasil não se expressam deste modo.
Entre a tradução usada em 1969:
“é” no presente do indicativo, penso que se usando a abundante variedade de
expressões oferecidas pela gramática da língua portuguesa, ficaria mais,
explicito, mais claro, mais didático, mais coloquial para o povo brasileiro em
geral; passando-se a usar o verbo no presente composto “está sendo”
evidenciando-se assim no celebrante da missa a sua função privilegiada como
sacerdote por excelência propriamente dito. Uma vez que fosse aceita estás
alterações nas palavras da consagração seria importante que isto fosse
comunicado aos fiéis para que eles notem quando o celebrante, após a
consagração, ao erguer a hóstia consagrada e o vinho consagrado ele não faz
esse gesto apenas para mostrar a todos as espécies consagradas, mas, sobretudo,
como esse gesto ele está oferecendo a Deus Pai, que simbolicamente está no
alto, à vítima imolada; o corpo sem sangue e o sangue sem corpo de Jesus seu
Filho unigênito. Eu penso que o texto da oração eucarística foi tirado da
Epistola aos Coríntios (1Cor 11, 23-25). Pergunto: Por que a Igreja, com a
autoridade que possui não a estende as palavras da consagração até o versículo
29, enfatizando: — “Assim, pois, quem come o pão e bebe o cálice do Senhor
indignamente será réu do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem
a si mesmo, e então como do pão e beba do cálice, pois aquele que, sem discernir
o corpo [do Senhor], come e bebe sua condenação”. Se não for possível, uma vez
que as palavras proferidas na oração eucarística devem ser universalmente
uniformes para toda a Igreja. Por que a Igreja no Brasil não a recomenda para
que ela seja dita e sempre repetida nas missas antes da distribuição da
comunhão pelo próprio celebrante ou pelo comentarista leigo. Assim agindo, a Igreja faria uma séria
advertência para aqueles que irresponsavelmente recebem a comunhão eucarística
em estado de pecado grave, sem antes terem sido perdoados pela confissão dos
seus pecados pelo Sacramento da Reconciliação. Assim agindo a Igreja
contribuiria para não houvesse, como há atualmente, inúmeras comunhões
sacrílegas.
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