quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Os trapistas

         Certa ocasião eu fiz um retiro no Mosteiro Trapista em Campo do Tenente no Paraná. Há algum tempo eu tinha curiosidade de conhecer a vida reclusa e silenciosa dos monges trapista. O mosteiro está localizado na zona rural, numa fazenda e mais de trezentos hectares com agriculturas diversas; plantação de soja, maçãs, hortaliças, apicultura, padaria própria, tanto os padres como os irmãos com tratores aram o solo, semeiam e colhem, assim cuidam do seu próprio sustento. Lá há completa carpintaria e oficina para manutenção dos tratores. Os monges acordam às duas horas e quarenta e cinco minutos, às três horas iniciam na capela o oficio das matinas, depois momentos de meditação, seguindo do oficio de prima, tudo cantado em português em ritmo gregoriano acompanhado solenemente pelo órgão. Ao anoitecer pós o oficio das Completas eles se recolhem às dezenove horas e trinta minutos para o repouso noturno. Os trapistas vivem em comunidade, porém nunca eles têm momentos de recreio, de bate-papo, nem no Natal e Páscoa. No mosteiro não há televisão, existe um computador a fim de apenas um monge cuidar de receber e-mails e responder, um jornal é lido apenas pelo abade que comunica na hora do capítulo matinal diário a comunidade noticias de suma importância tanto da Igreja como do mundo em geral. Aqueles que lá vão fazer retiro espiritual o abade designa um monge para durante trinta, quarenta minutos para que ele de atenção ao retirante com a finalidade de dar-lhe orientação espiritual se for solicitada. Numa daquelas oportunidades eu indaguei do monge como era a observância do silêncio entre eles. O monge me respondeu que eles falavam o estritamente o necessário durante as horas de trabalho, fazendo antes um exame de consciência se aquilo que ia dizer era mesmo de certa importância, ou se podia substituir a voz por um gesto com as mãos. Nesses dias que eu passei no mosteiro aprendi essa lição desde ai eu procurei pensar bem antes de falar e ponderar se valeria a pena falar ou me silenciar, porque algumas reclamações não surtem efeito algum, é inócuo, então melhor ficar calado. Ele jocosamente, rindo, me disse que assim procedendo todos podiam pensar que determinado confrade fosse um santo, modelo de perfeição, mas se falasse alguma coisa poderia causar uma decepção para os demais. 

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