Certa ocasião eu fiz um retiro no
Mosteiro Trapista em Campo do Tenente no Paraná. Há algum tempo eu tinha
curiosidade de conhecer a vida reclusa e silenciosa dos monges trapista. O
mosteiro está localizado na zona rural, numa fazenda e mais de trezentos
hectares com agriculturas diversas; plantação de soja, maçãs, hortaliças,
apicultura, padaria própria, tanto os padres como os irmãos com tratores aram o
solo, semeiam e colhem, assim cuidam do seu próprio sustento. Lá há completa
carpintaria e oficina para manutenção dos tratores. Os monges acordam às duas
horas e quarenta e cinco minutos, às três horas iniciam na capela o oficio das
matinas, depois momentos de meditação, seguindo do oficio de prima, tudo
cantado em português em ritmo gregoriano acompanhado solenemente pelo órgão. Ao
anoitecer pós o oficio das Completas eles se recolhem às dezenove horas e
trinta minutos para o repouso noturno. Os trapistas vivem em comunidade, porém
nunca eles têm momentos de recreio, de bate-papo, nem no Natal e Páscoa. No
mosteiro não há televisão, existe um computador a fim de apenas um monge cuidar
de receber e-mails e responder, um jornal é lido apenas pelo abade que comunica
na hora do capítulo matinal diário a comunidade noticias de suma importância
tanto da Igreja como do mundo em geral. Aqueles que lá vão fazer retiro
espiritual o abade designa um monge para durante trinta, quarenta minutos para
que ele de atenção ao retirante com a finalidade de dar-lhe orientação espiritual
se for solicitada. Numa daquelas oportunidades eu indaguei do monge como era a
observância do silêncio entre eles. O monge me respondeu que eles falavam o
estritamente o necessário durante as horas de trabalho, fazendo antes um exame
de consciência se aquilo que ia dizer era mesmo de certa importância, ou se
podia substituir a voz por um gesto com as mãos. Nesses dias que eu passei no
mosteiro aprendi essa lição desde ai eu procurei pensar bem antes de falar e
ponderar se valeria a pena falar ou me silenciar, porque algumas reclamações
não surtem efeito algum, é inócuo, então melhor ficar calado. Ele jocosamente,
rindo, me disse que assim procedendo todos podiam pensar que determinado
confrade fosse um santo, modelo de perfeição, mas se falasse alguma coisa
poderia causar uma decepção para os demais.
quinta-feira, 21 de janeiro de 2016
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