terça-feira, 4 de setembro de 2012

Dois meninos nasceram em datas próximas, eram quase visinhos, filhos de famílias pertencentes à classe média. Eram conhecidos, mas não amigos, estudaram no mesmo colégio religioso, lá eles fizeram a primeira comunhão e lá foram crismados. Um deles, o Osvaldo, depois de terminar os estudos preparatórios ingressou numa faculdade de engenharia, o outro, o Francisco aproveitou bem as aulas de catecismo na preparação para a primeira comunhão e depois na preparação para o sacramento da crisma, desde a primeira comunhão passou a ser um católico praticante e ele não faltava às missas aos domingos onde comungava, daí sentiu a vocação para a vida religiosa, e mesmo contrariando a vontade de seus pais ele ingressou como noviço numa ordem religiosa, depois dos estudos de filosofia e teologia foi ordenado sacerdote, fiel a sua vocação, sempre foi um religioso exemplar, raramente ele deixou o dependências do mosteiro. Osvaldo foi bem sucedido profissionalmente, galgou postos importantes nas empresas onde trabalhou, casou-se logo depois de formado, teve dois filhos, porém depois de sete anos divorcio-se e dois anos depois tornou a se casar e teve mais um filho, mas esse segundo casamento durou um pouco mais, depois de dez anos voltou a se divorciar. Osvaldo tanto fez a primeira comunhão com foi crismado e se casou na primeira vez na Igreja porque era uma tradição familiar, mas nunca praticou a sua religião, nunca se interessou por ela, porque dizia ele, quando era interpelado, que tinha coisas mais sérias com que se preocupar. Os anos se passaram e com eles a mocidade, a maturidade e por fim a velhice. Como todos os mortais, coincidentemente, com a diferença de poucos dias ambos faleceram. Francisco teve as exéquias de conformidade com o ritual da sua comunidade; missa de corpo presente e de sétimo dia; Osvaldo também teve a sua missa de sétimo dia. Como havia sido um importante diretor de empresa, era muito conhecido pela sociedade, teve na sua missa de sétimo dia uma presença concorrida de parente e amigos que lotaram toda a igreja. Francisco viveu toda a sua vida movido pela fé, secretamente, aspirava pelo dia em que iria ter a visão beatífica de Deus a fim de contemplá-Lo eternamente, enquanto Osvaldo nunca, jamais, havia passado pela sua cabeça de que aconteceria com ele após a sua morte. Apenas duas possibilidades poderiam acontecer aos dois como a todos nós: Primeira: após a morte nada vir acontecer, isto é, se cair no vácuo do nada. Morrer como morrem os animais irracionais, como uma rês ou como um frango abatidos no matadouro. Por isso não haveria nenhuma decepção para ninguém, não haveria tempo para isso, porque a primeira coisa que acontece, geralmente, no momento da morte é que o sangue para de circular em todo o corpo e o cérebro se para de racionar. Que é conhecida como a morte cerebral. A segunda possibilidade é de se acordar num outro mundo. Para Francisco isso aconteceu e foi um momento de grande alegria para ele, sua convicção intima naquele momento se confirmara, porque nunca ele havia duvidado disso, mas, como todo ser humano ele era passível de tentações e era perseguido por uma que era contra a sua fé, mas que ele sempre reagiu e nas suas orações fazia atos de fé e pedia a Deus que o ajudasse em vencê-las. Porque a crença não deixa de ser uma hipótese, uma suposição, embora, mesmo quando ela é bem fundamentada, mas, que não se pode ser confirmada através da física, nem da química, nem da cibernética, porque, caso um dia isso caso viesse acontecer à fé perderia o seu sentido de ser. Osvaldo ao se despertar do sono da morte ele teve uma surpresa e ele queria saber onde se encontrava, sentiu-se perdido, não havia ninguém ao seu lado, estava só, completamente só. Foi quando então ele se lembrou de uma coisa que há muito tempo ele havia esquecido, mas que aprendera nas aulas de catecismo para a preparação da sua primeira comunhão, que havia um Deus e que conseqüentemente também havia uma vida após a morte. Amargurado pensou; por que ele não havia se preparado para aquilo que acabava de lhe acontecer. Por que ele nunca havia se lembrado que havia um Deus e de uma vida após a morte? Agora ele estava só, sem seus parentes, sem seus amigos, perdido, sem saber para aonde ir, não sabia a quem recorrer, não havia paredes a sua volta, mas, ele se sentia como estivesse numa solitária. Angustiado, Osvaldo, estava agora arrependido da vida que levara, mas ele bem sabia que era tarde demais, que o seu arrependimento não o levaria a nada, e que ele deveria ter pensado nisso antes da sua morte, nada mais ele poderia fazer em proveito próprio onde se encontrava, aquela oportunidade ele deixara para trás, na vida que viveu antes da sua morte. Infeliz, desgraçado, sabia agora que Deus realmente existe e no encontro com Ele é que iria lhe trazer a plena felicidade que ele sempre procurou, mas que jamais encontrou.

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